As próteses auditivas ancoradas ao osso são indicadas para casos de perda auditiva condutiva permanente ou mista, em que não seja possível utilizar a prótese auditiva de amplificação sonora individual por condução aérea (o AASI convencional). Os casos de surdez profunda unilateral, são uma outra demanda que podem se beneficiar com o emprego dessa categoria de prótese.
Esse tipo de perda auditiva pode ocorrer após cirurgia de orelha média ou por outra causa, assim como, devido à malformação congênita de orelha externa e média (casos de microtia agenesia congênita). A indicação pode ser ampliada para os casos de otites médias crônicas ou alterações de orelha externa (alergias no conduto auditivo externo, por exemplo), que impossibilitem a adaptação de aparelho de amplificação sonora por condução aérea.
Uma vez que a transmissão do som, por meio do canal auditivo, via condução do ar, nesses casos de perda auditiva, está prejudicada, a indicação da prótese auditiva ancorada ao osso processa-se pelo fato de que seu funcionamento acontece de forma diversa. Nas próteses auditivas por condução óssea, o som é transformado em vibrações que são transmitidas através do osso diretamente para dentro da cóclea na orelha interna, via implante (abudment, conhecidos popularmente como pinos, nos dispositivos percutâneos ou imã, nos dispositivos transcutâneos).
A imagem mostra duas formas de condução do estímulo sonoro: em azul, a condução do som por via aérea, como a realizada por próteses auditivas convencionais (AASI); em vermelho, a condução por via óssea, como a realizada pelas próteses auditivas ancoradas ao osso.
Em crianças pequenas abaixo de cinco anos, pode não ser possível realizar a cirurgia para a colocação da prótese auditiva ancorada ao osso, devido à espessura da calota craniana, nesses casos há a indicação dos processadores posicionados por meio de softband ou arco metálico, ou ainda, por adesivo de fixação. O importante é que a adaptação nas crianças deve ser realizada o mais cedo possível, já que os primeiros anos de vida são fundamentais para a aquisição da linguagem, pois nesse período, a capacidade auditiva é fundamental para o aprendizado da linguagem falada. Há evidências crescentes de que a ausência de som e de acesso à linguagem leva a atraso cognitivo, problemas de saúde mental, uma maior possibilidade de acidentes traumáticos e alfabetização limitada. A intervenção precoce para crianças com deficiência auditiva é, portanto, essencial.
As imagens a seguir mostram exemplos de dispositivos adaptados por meio de softband e arco metálico:
Baha SoundArc
O Baha SoundArc, da empresa Cochlear, seu processador externo é adaptado ao arco e é posicionado próximo à orelha do usuário, permitindo a estimulação óssea e a transmissão da vibração sonora.
Baha na softband
O Baha softband da empresa Cochlear, seu processador externo é adaptado à softband e é posicionado próximo à orelha do usuário, permitindo a estimulação óssea e a transmissão da vibração sonora.
Ponto na softband

Nessa imagem temos o processador externo Ponto da empresa Oticon adaptado à uma softband. Assim como no exemplo anterior, o processador externo é adaptado à softband e é posicionado próximo à orelha do usuário, permitindo a estimulação óssea e a transmissão da vibração sonora.
AdHear (adesivo)

2aimagem http://www.medel.com
O ADHEAR da empresa Med-El é um sistema de condução óssea em que o processador é adaptado à um adesivo, não há a necessidade de softband ou arco metálico. Basta fixar o adaptador do ADHEAR atrás da orelha, clicar no processador de áudio e o sistema passará a funcionar, ele vibra o osso atrás da orelha e envia o som diretamente a orelha interna, proporcionando a percepção sonora.
Todos os dispositivos apresentados acima não necessitam de cirurgia para sua adaptação, são indicados pra crianças que não têm espessura de calota craniana suficiente para a implantação do dispositivo, podem ser utilizados em qualquer idade, no processo pré-cirúrgico para testar os resultados esperados com a utilização do dispositivo e também por adultos que não desejam ou têm algum impedimento para submissão à um processo cirúrgico.
A seguir serão apresentadas as alternativas cirurgicamente implantáveis:
Atualmente, existem dois sistemas cirurgicamente implantáveis de estimulação óssea, os chamados transcutâneos e os percutâneos. No sistema percutâneo, há um pino ou parafuso de titânio atravessando a pele onde o processador externo será fixado. Nos sistemas transcutâneos, a pele fica íntegra e os dispositivos, interno e externo, se conectam por um sistema de ímãs e ele pode ser ativo (constituído por uma unidade interna implantável composta de ímã, bobina receptora interna e demodulador acoplado a um transdutor de massa flutuante para condução óssea fixado na mastoide e o processador de áudio externo) e passivo (composto de pino ou parafuso de titânio implantável acoplado a um processador de áudio externo magneticamente).
Percutâneo
Na imagem acima temos um sistema de estimulação percutâneo. Há um pino ou parafuso de titânio atravessando a pele onde o processador externo é fixado. Os percutâneos têm a desvantagem estética do pino e a necessidade de um cuidado maior com a pele ao redor, já que há a possibilidade de complicações de pele. Como vantagem apresentam, geralmente, uma capacidade superior de estimulação e um procedimento cirúrgico mais simples.
Transcutâneo Ativo
O BoneBridge da Med-El é um sistema de estimulação conhecido com transcutâneo ativo. É constituído de uma unidade interna implantável composta de ímã, bobina receptora interna e demodulador acoplado a um transdutor de massa flutuante para condução óssea (BC-FMT) fixado na cortical da mastoide e um processador de áudio externo.
Transcutâneo Passivo
O Baha Atract da Cochlear é um sistema de condução óssea conhecido como transcutâneo passivo. Ele usa uma conexão magnética para atrair o processador de som para o implante, enviando som para a orelha interna.
Os dispositivos, percutâneos e transcutâneos, disponíveis no Brasil são: percutâneos – BAHA Connect (Cochlear) e Ponto (Oticon); transcutâneos – BAHA Attract (Cochlear) e BoneBridge (Med-El). A empresa Cochlear lançou o dispositivo transcutâneo Osia.
Percutâneos: BAHA Connect e Ponto
BAHA Connect – Cochlear
Ponto – Oticon
Transcutâneos: BAHA Attract, BoneBridge e Osia
BAHA Attract – Cochlear

BoneBridge – Med-el

Osia – Cochlear
A atuação do fonoaudiólogo na seleção e adaptação das Próteses Auditivas Ancoradas ao Osso
O Fonoaudiólogo estará presente em praticamente todas as etapas, da seleção do candidato à adaptação das próteses auditivas ancoradas ao osso, em conjunto com o médico otorrinolaringologista e outros profissionais que poderão participar desse processo.
O início do processo de seleção ocorre com a avaliação médica que indicará os exames necessários para o correto diagnóstico da perda auditiva do candidato, além de outros exames que o médico otorrinolaringologista deverá solicitar. Podem ser necessários a realização de exames como: audiometria, imitanciometria, emissões otoacústicas e potencial auditivo de tronco encefálico.
Após a indicação médica otorrinolaringológica confirmada, será necessário a realização de testes que demonstrarão se o candidato à prótese auditiva ancorada ao osso, apresentará indicação fonoaudiológica. Portanto, o candidato realizará testes que poderão sugerir como será o seu desempenho após a implantação do dispositivo. Esses testes podem ser executados com a utilização da prótese adaptada à uma softband ou arco, ou com o instrumento de vibração óssea do equipamento de audiometria. Os testes verificarão se o candidato apresenta ganho funcional com a utilização do dispositivo. Após todas as avaliações, o médico e o fonoaudiólogo (a), discutirão os resultados e indicarão a prótese mais adequada. Outros profissionais como psicólogos, assistente sociais entre outros, poderão participar do processo de seleção do candidato.
Após a cirurgia, o próximo passo é a ativação do dispositivo. A ativação, é o momento em que todo o sistema irá funcionar e o usuário poderá usufruir do benefício da prótese auditiva ancorada ao osso. A ativação procederá após um período necessário para a cicatrização da ferida cirúrgica e integração óssea do implante. No caso dos transcutâneos esse período será por volta de 30 a 40 dias, podendo se estender de acordo com a avalição do otorrinolaringologista responsável. Já no caso dos percutâneos, esse período entre o procedimento cirúrgico e a ativação do processador externo, poderá ser superior, de acordo com a técnica cirúrgica realizada. De qualquer forma, a ativação do processador externo será realizada pelo(a) fonoaudiólogo(a) responsável pelo serviço, após liberação médica otorrinolaringológica.
É fundamental o acompanhamento pré e pós cirúrgico por equipe multiprofissional nos casos de próteses auditivas implantáveis, desde o diagnóstico audiológico acurado, a escolha da prótese de acordo com as necessidades do usuário, procedimento cirúrgico realizado por profissional otorrinolaringologista experiente, fonoaudiólogo(a) especializado(a), acompanhamento psicológico, entre outros, serão essenciais para o êxito do procedimento. Seguindo esses cuidados o usuário poderá usufruir de todos os benefícios proporcionados pelas próteses ancoradas ao osso.

Bibliografia
- Kruyt IJ, Nelissen RC, Johansson ML, Mylanus EAM, Hol MKS; The IPS-scale: A new soft tissue assessment scale for percutaneous and transcutaneous implants for bone conduction devices. June 2017.
- Diretrizes gerais para indicação de próteses auditivas ancoradas no osso. http://www.ans.gov.br
- Bosman AJ, Snik AF, van der Pouw CT, Mylanus EA, CremersCW. Audiometric evaluation of bilaterally fitted bone-anchoredhearing aids. Audiology. 2001.
- Danhauer JL, Johnson CE, Mixon M. Does the evidence supportuse of the Baha implant system (Baha) in patients with congenitalunilateral aural atresia? J Am Acad Audiol. 2010.
- Yibei Wang, Xinmiao Fan, Pu Wang, Yue Fan, Xiaowei Chen. Hearing improvement with softband and implanted bone-anchored hearing devices and modified implantation surgery in patients with bilateral microtia-atresia. International Journal of Pediatric Otorhinolaryngology.