O sistema auditivo humano começa sua funcionalidade a partir da 22º semana de gestação, e os primeiros sons que o feto percebe são ruídos, de baixa frequência, gerados pelo trato digestivo e sons maternos transmitidos através dos ossos do esqueleto, além do som rítmico do coração. Esses sons intrauterinos são os que fazem com que o bebe nasça com tendência a procurar ruídos em sua volta. Assim os sons, principalmente da mãe e do seu ambiente de convívio, vão determinar o registro cerebral das primeiras vivências do bebe e irão moldar suas escolhas e percepções sonoras futuras.
A cóclea humana apresenta-se totalmente funcionante ao nascimento, porém o sistema auditivo central é inicialmente imaturo e, durante a infância e adolescência, há seu amadurecimento, por meio de bilhões de conexões e sinapses em formação. Para essas sinapses sonoras acontecerem e se manterem, precisamos dos estímulos sonoros externos.
A deficiência auditiva é definida como privação sensorial que se caracteriza pela reação anormal diante de estímulos sonoros. Com essa privação auditiva, o cérebro não consegue processar corretamente sons baixos e a maneira como passa a compreender a fala é modificada, por isso nossa atenção deve ser maior para as crianças com perda de audição antes da formação da linguagem, também chamada de perda pré-lingual.
Deu para perceber então que, na deficiência auditiva, não temos apenas uma audição prejudicada, temos todo um processamento do som no cérebro afetado, e essa privação, quando continua e por tempo prolongado faz as sinapses se reduzirem e a plasticidade se deteriorar.
Em estudos, pesquisadores observaram que a perda auditiva acelera o declínio cognitivo dos adultos, mas o aparelho auditivo restaura a habilidade de comunicação e reconhecimento de fala dos idosos e assim melhora o humor, as interações sociais e as atividades de vida diária, o que consequentemente desacelera a declínio cognitivo já esperado nessa fase da vida.
Assim, pensando que nosso sistema central precisa de estímulos sonoros para manter a plasticidade auditiva, os aparelhos auditivos e implantes cocleares ajudam a manter as vias neurais no cérebro, facilitam a habilidade de comunicação, melhoram as interações sociais e consequentemente levam a uma desaceleração da progressão da perda no reconhecimento de fala e sentenças.
Quanto mais cedo a protetização e adaptação for iniciada, maiores são as chances do paciente se acostumar com o aparelho e evitar a progressão da perda de suas habilidades de vida cotidianas. Por isso aceite suas dificuldades e procure o mais rápido possível ajuda do especialista.

Bibliografia
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Academia Brasileira de Audiologia. Tratado de audiologia.2 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2015.