A audição é uma das vias sensoriais mais importantes para o desenvolvimento global do ser humano. Por meio dela, somos capazes de perceber o mundo sonoro a nossa volta e experimentá-lo, desfrutando emoções e experiências marcantes.
Ainda antes de nascer, as crianças já são capazes de ouvir, é o primeiro sentido a ser desenvolvido. Ao nascer, o bebê ouvinte segue desenvolvendo suas habilidades auditivas, inicialmente presentes, mas que só atingirão a maturidade caso haja estímulo ambiental. Mas agora vamos pensar: e as crianças que não ouvem? As crianças com algum grau de deficiência auditiva não desenvolverão normalmente as suas habilidades auditivas. Isso porque estão privadas de uma entrada sensorial carregada de muita informação. E, se não há estimulação sonora, não haverá maturação.
É por isso que uma perda auditiva pode provocar efeitos diversos na comunicação humana, de maneira muito mais grave quando ocorrida ainda na infância. Secundariamente à deficiência auditiva podem ocorrer alterações de linguagem, cognitivas, emocionais, sociais, educacionais, intelectuais e, consequentemente, na aprendizagem.
A ASHA (American Speech-Language-Hearing Association), considera que a deficiência auditiva representa 60% dos distúrbios da comunicação. Os estudos em torno da relação da perda de audição com a aprendizagem são categóricos quanto aos malefícios provenientes da falta de estimulação sensorial auditiva: na área da linguagem, as crianças apresentam desempenhos inferiores em tarefas verbais e não verbais, de compreensão e expressão.
O não desenvolvimento das habilidades auditivas devido à perda de audição provocará, consequentemente, uma dificuldade na interpretação das informações auditivas, ou seja, uma alteração no processamento auditivo, pois para processar esta informação, primeiramente é necessário ouvi-la.
A integridade da via auditiva periférica é uma das condições primordiais para bem processarmos os sons que ouvimos. Qualquer alteração nesta via, pode trazer prejuízo ao processamento da informação. Assim, uma criança com problemas de audição na infância como uma otite, surdez congênita ou adquirida, terá seus neurônios atingidos e, por sua vez, mal conectados o que poderá ocasionar intercorrências na fala, leitura e aprendizagem.
Diante deste cenário, torna-se evidente a necessidade do diagnóstico e intervenção precoce, pois uma criança que trata as infecções de ouvido ou que tem acesso ao uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares à tempo, poderá desempenhar um comportamento auditivo considerado típico e favorável ao desenvolvimento das habilidades auditivas, propiciando assim um bom desenvolvimento de linguagem, cognitivo e de aprendizagem.
Note que não diferimos aqui o tipo de perda auditiva que trará impacto à aprendizagem da criança. Isso porque qualquer tipo ou grau de perda já são suficientes para prejudicar, em algum nível, o processo de desenvolvimento infantil. O que reforça os benefícios do diagnóstico precoce.
REFERÊNCIAS
BEVILACQUA, M. C.; FORMIGONI, G. M. P. O desenvolvimento das habilidades auditivas. In: BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M. (Org.). Deficiência auditiva: conversando com familiares e profissionais de saúde. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2005. p. 179-202.
BICAS, RS et al. Habilidades auditivas e de comunicação oral de crianças e adolescentes deficientes auditivos e o processo de reabilitação fonoaudiológica. Rev. CEFAC vol.19 no.4 São Paulo July/Aug. 2017.
OLIVEIRA, LN, GOULART BNG, CHIARI BM. Distúrbios de linguagem associados à surdez. J Hum. Growth Dev. 2013;23(1):41-5.
TABAQUIM, ML et al. Avaliação do desenvolvimento cognitivo e afetivo-social de crianças com perda auditiva. Rev. CEFAC vol.15 no.6. São Paulo Nov./Dec. 2013.
