A constante atualização tecnológica e científica acerca do implante coclear e suas técnicas cirúrgicas, contribuiu para a ampliação dos critérios de indicação e facilitou o acesso ao dispositivo nos últimos anos. No Brasil, isso refletiu em aumento dos Centros de Implante Coclear habilitados para a realização da cirurgia, tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quanto em serviços assistenciais privados.
O processo de avaliação do candidato ao implante é complexo e deve seguir uma ordem para que se alcance os benefícios oferecidos. Através das Portarias nº 1.278/99 e nº 2.776/14 (revogada pela Portaria 2.157/15), o Ministério da Saúde elaborou Diretrizes para Certificação dos Centros/Núcleos de Implante Coclear. Em 2012, a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO), através do Comitê de Implante Coclear, criaram mecanismos para acreditação de cursos de treinamento com a finalidade de apoiar o desenvolvimento de serviços de referência. De acordo com as Portarias, são exigidos infraestrutura adequada, recursos institucionais, fluxos de atendimentos e cirurgias, e uma equipe multiprofissional devidamente qualificada, mas a estruturação de um Centro de Implante Coclear deve ser adaptada à realidade de cada serviço.
As etapas pré, peri e pós-operatória contemplam, respectivamente: indicação clínica criteriosa, procedimento cirúrgico preciso e acompanhamento especializado. Inicialmente, o paciente é submetido a protocolos de avaliação de acordo com a idade, em que são realizados testes auditivos, de linguagem e de percepção da fala, além de questionários de desempenho auditivo e adaptação de aparelhos de audição convencionais. Posteriormente, é realizada a seleção do candidato à cirurgia, apoiada nos critérios de indicação e contraindicação do implante coclear. A avaliação psicológica abrange a adequação de expectativas e consciência acerca dos possíveis cenários, do paciente e das pessoas com quem convive. A assistência social permite intervir nas dificuldades sociais e facilitar o acesso entre a equipe de reabilitação, a instituição e as redes de apoio (familiar, escolar e social), garantindo a continuidade do tratamento. Após a cirurgia, é realizada a ativação do dispositivo e o paciente é acompanhado por uma equipe interdisciplinar para reabilitação auditiva com terapia fonoaudiológica e protocolos de acompanhamento periódico. Dessa forma, os profissionais que os compõem os Centros de Implante Coclear são divididos em duas equipes: básica (mínima) e complementar (de apoio).
- Equipe básica:
- Otorrinolaringologia;
- Fonoaudiologia (audiologia);
- Psicologia;
- Assistência Social;
- Equipe complementar:
- Médico Clínico Geral;
- Anestesiologista;
- Radiologista;
- Cardiologista;
- Neuropediatra;
- Neurologista;
- Pediatra;
- Cirurgião Plástico;
- Geneticista.
Vale ressaltar que os Centros destinados ao atendimento da rede de saúde privada podem diferir quanto a estrutura física e recursos humanos. A despeito das diferenças, a equipe especializada na atenção às pessoas com deficiência auditiva precisa estar integrada, coesa, ter estabilidade e experiência no lidar com as diferentes doenças otológicas, além do implante coclear, pois o paciente precisará de suporte para o resto da vida e a identificação de inadequações durante o processo de avaliação e reabilitação, pode influenciar diretamente o resultado da terapia.
REFERÊNCIAS:
ABORL-CCF, SBO. Diretrizes para Certificação de Centros de Implante Cocleares. São Paulo, 2012.
BENTO, R.F. et al. Tratado de Implante Coclear e Próteses Auditivas Implantáveis. São Paulo: Thieme, 2014.
BRASIL. Portaria GM/MS nº 1278, de 20 de outubro de 1999. Diário Oficial [da] União, Poder Executivo: Brasília, 1999.
BRASIL. Portaria nº 2.776, de 18 de dezembro de 2014. Diário Oficial [da] União, Poder Executivo: Brasília, 2014.
BRASIL. Portaria nº 2.157, de 23 de dezembro de 2015. Diário Oficial [da] União, Poder Executivo: Brasília, 2015.FERNANDES, T. F. S.; ALVARENGA, K. de F.; MESQUITA, S. T. O serviço social nos programas de implante coclear do Brasil. Serviço Social e Saúde: Campinas, 2018.
