O processo de reabilitação auditiva é longo e cheio de desafios. Depois de realizado o diagnóstico de deficiência auditiva e dado inicio à reabilitação auditiva, através do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) ou implante coclear (IC), a criança precisa do acompanhamento fonoaudiológico para desenvolver plenamente suas capacidades auditivas e de linguagem. A terapia fonoaudiológica visa, portanto, à aquisição da linguagem oral e maximiza o desenvolvimento das habilidades auditivas. Entretanto, a família é uma peça fundamental e decisiva em todo o processo terapêutico.
A família precisa estar plenamente unida e engajada no processo terapêutico. Enquanto os terapeutas são apenas agentes de apoio, a família é o agente modificador da realidade das crianças (Bevilacqua, 1985), uma vez que a maior parte do tempo a criança está inserida no seio familiar e não no ambiente terapêutico.
Os pais e/ou cuidadores devem estar cientes que não é apenas colocar o AASI ou IC que tudo se resolverá. Todos que interagem com a criança precisam internalizar estratégias que auxiliem no desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem.
Abaixo, compartilho dez estratégias que podem ser realizadas em casa pelos pais, para auxiliar o desenvolvimento auditivo e de linguagem da criança com deficiência auditiva.
1) Enriquecer o ambiente de aprendizagem diariamente com novos estímulos e atividades;
2) Envolva a criança nas atividades diárias para estimular o desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem. Por exemplo, quando a mãe está na cozinha preparando uma refeição, mostrar para a criança os alimentos, nomeá-los, mostrar as cores, etc., sempre construindo frases (linguagem) ou quando estão brincando falar sobre o que está fazendo;
3) Use sempre a voz para chamar a atenção da criança e busque a atenção dela;
4) Utilize os sons do dia a dia para chamar a atenção da criança: na hora de comer, chame a atenção para os sons produzidos pela louça, no banho, faça barulhos com a água. Chame a atenção para os sons do ambiente: barulho da descarga, campainha, TV. Assim a criança perceberá que há diferentes tipos de sons.
5) Dê um tempo de espera ao falar ou produzir algum som;
6) Desenvolva atividades do interesse da criança e respeite o seu ritmo.
7) Demonstre que a criança está sendo compreendida, por exemplo, por meio de palavras e por gestos de concordância, para que ela queira se comunicar cada vez mais.
8) Deixe a criança livre para demonstrar o que quer. Espere ela pedir e não atenda prontamente. É uma forma de incentivar a criança a se comunicar.
9) Sempre que necessário repita o que foi dito para que a criança possa entender e apresente a ela um contexto.
10) Busque criar sempre diálogos com a criança, respeitando a troca de turnos, faça perguntas, comentários e dê um tempo para que ela dê a resposta.
Essas estratégias e tantas outras devem ser colocadas em prática por todos que convivem diariamente com a criança. Por isso, faz-se importante que, durante o atendimento terapêutico, o fonoaudiólogo tire um tempo, oriente os familiares e tire todas as duvidas que possam existir nas atividades diárias com a criança.
Pais, os terapeutas são e devem ser seus parceiros. Participem dos atendimentos terapêuticos e se envolvam sem medo.
Referências
Bevilacqua MC, Formigoni GMP. Audiologia Educacional: Uma opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. Pró- Fono, 2012.
Bevilacqua, MC. Compreensão de mães das orientações ministradas em um programa de audiologia voltado para a educação de crianças deficientes auditivas. [Tese – Doutorado em Psicologia da Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo]. São Paulo, 1985.
