Antes de entendermos como funcionam os eletrodos do implante coclear, precisamos conhecer um pouquinho sobre como escutamos.
O sistema auditivo humano é dividido em orelhas externa, média e interna. Na orelha externa, temos o pavilhão auricular, responsável por concentrar a energia acústica que chega aos ouvidos até a entrada do canal auditivo externo. Já a orelha média auxilia na amplificação e condução deste som captado, ela possui membrana timpânica e, internamente, os ossículos: martelo, bigorna e estribo. Eles têm a função de conduzir as vibrações da membrana timpânica à orelha interna, mais precisamente, para cóclea. A cóclea tem o formato de um caracol, e ao longo de toda sua extensão temos a presença das células ciliadas internas, as quais transformam a energia mecânica, passada pela vibração dos ossículos, em sinais elétricos, que serão transmitidos, para o nervo auditivo, chegando até o cérebro.
As pessoas candidatas ao implante coclear, em geral tem uma perda auditiva causada por um problema na transformação da energia mecânica em impulsos elétricos, na transmissão desses impulsos para o nervo ou na condução dos impulsos elétricos pelo próprio nervo, ou seja, uma alteração nas células ciliadas ou no nervo propriamente dito. E é justamente nestes pontos que os eletrodos do implante coclear cumprem seu papel.
Os eletrodos são a parte mais delicada do implante coclear. Durante a cirurgia, são introduzidos dentro da cóclea de maneira muito delicada, para que o cirurgião preserve ao máximo possível as estruturas internas da cóclea. Sua função é gerar um impulso elétrico que será transmitido diretamente para o nervo. Eles são distribuídos ao longo da extremidade do implante coclear, e a quantidade de eletrodos, seu comprimento e sua distribuição varia conforme a marca e o modelo de cada implante. Existem eletrodos que ocupam apenas um lado do cabo, também chamados de “meia banda”, e eletrodos que fazem uma volta de 360 graus em torno do cabo, conhecidos como “banda completa”. Outra classificação se deve a maneira como o cabo que contém os eletrodos, se posicionará dentro da cóclea. Existem cabos que tem uma memória pré-estabelecida, e ao serem introduzidos dentro da cóclea, se posicionarão em sua região mais interna, deixando os eletrodos mais próximos ao nervo auditivo, estes tipos de cabos de eletrodos recebem o nome de “perimodiolares”, uma vez que o meio da cóclea é chamado de modíolo. Já o outro tipo são os cabos de eletrodos denominados de “retos”, onde o cabo do implante coclear contendo os eletrodos se posicionará na parede mais lateral da cóclea. O tipo de cabo, posicionamento, número de eletrodos, distância entre eles e a rigidez do cabo que os contêm, cria uma grande combinação de possibilidades para que os profissionais da equipe que realizará o implante coclear, escolham a melhor opção para cada caso individualmente.
Outro ponto muito importante em relação aos eletrodos do implante coclear, é a programação feita pela equipe de fonoaudiologia com cada um deles. Esta programação é realizada durante as sessões de mapeamento do implante coclear, e ela varia conforme a resposta de cada paciente. Nestas sessões, a maneira e a intensidade com que cada eletrodo estimula o nervo coclear é controlada e ajustada, sendo possível também desligar algum eletrodo que não esteja funcionando corretamente. Este processo é essencial para o sucesso do implante coclear, principalmente em casos nos quais alguma alteração anatômica, como malformações cocleares, calcificações pós meningite, ou mesmo casos de otosclerose avançada, impediu a inserção adequada de todos os eletrodos dentro da cóclea.
As inovações no campo dos eletrodos dos implantes cocleares não param de chegar. Esta é uma área que recebe grande atenção dos pesquisadores e das empresas desenvolvedoras dos implantes. Assim devemos ter eletrodos cada vez mais delicados, precisos e eficientes, sempre em busca do melhor resultado possível para o usuário do implante coclear.
