“O zumbido roubou meu silêncio!” “O barulho deste lugar me incomoda”
O trabalho do fonoaudiólogo no tratamento auditivo do zumbido e dos distúrbios de tolerância a sons é desafiador, mas ao mesmo tempo, muito gratificante. Dentre as opções para a intervenção, algumas ainda em estudo, dois pilares contribuem para o resultado: o aconselhamento e a terapia sonora.
E assim se inicia um caminho trilhado na parceria entre o fonoaudiólogo e o paciente. Caminho este percorrido passo a passo e construído dia a dia. Dentro de um contexto amplo, é claro, onde se encontram outros profissionais importantes, com funções específicas, dentro de suas áreas de atuação. Afinal, ninguém faz nada sozinho. Um viva à multidisciplinaridade!
O dia a dia deste trabalho nos convida a muitas reflexões. Dentre elas, o que é o tão almejado “silêncio”? Um dia, uma colega e amiga fonoaudióloga, que muito admiro, me recomendou um livro: “Silêncio: o poder da quietude num mundo barulhento” do professor e monge budista Thich Nhat Hanh (in memorian).
O livro nos convida a pensar sobre como outros estímulos, que não somente os auditivos, podem funcionar como um ruído para o nosso cérebro. E ainda, como, muitas vezes, a busca pelo silêncio absoluto é idealizada e não factível.
Um estudo, nada recente, colocou universitários em câmaras a prova de sons, e o resultado mostrou que a maior parte dos sujeitos, sem queixas auditivas, eram capazes de perceber sons internos, como o zumbido.
Um dos exames mais fantásticos dentro da prática audiológica, as emissões Otoacústicas, é baseado na análise de sons gerados pelas células auditivas internamente, mas captados no conduto auditivo externo.
Respira, mastiga, bate coração. Vem a emoção ou a agitação, a batida do coração fica mais perceptível. Fato é que som é vida. Nosso organismo é muito barulhento e som é movimento.
Você já parou para prestar atenção em sons do seu ambiente, que muitas vezes passam despercebidos? Já notou o quanto nos acostumamos com sons que fazem parte do nosso dia a dia e que já não chamam mais atenção do nosso cérebro?
E como nosso cérebro é fantástico ao eleger os estímulos mais relevantes a ele, evocando emoções e memórias, mas acima de tudo, buscando segurança, proteção e a nossa sobrevivência?
Sim, somos humanos, com alguns instintos ainda primitivos e os estímulos que nosso cérebro identifica como ameaçadores vão chamar mais atenção, em um verdadeiro sistema de alerta.
Mas, e quando sons que não deveriam ativar, ativam essa complexa rede de alerta?
Aí sim, isso é algo que temos que trabalhar.
*Se você sofre com o zumbido, ou com sons do dia a dia que provocam desconforto, procure ajuda especializada. O ponto de partida é a investigação médica e existem possibilidades terapêuticas para a melhora do seu sintoma.

Referências
HELLER MF, BERGMAN M. Tinnitus aurium in normally hearing persons. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1953 Mar;62(1):73-83. doi: 10.1177/000348945306200107. PMID: 13041055.
HANH TN. Silêncio: o poder da quietude num mundo barulhento. Rio de Janeiro(RJ): HarperCollins Brasil, 2016.
Um comentário em “Zumbido e intolerância a sons”