Antes de falarmos do processador externo do implante coclear, vamos falar sobre o que é o Implante Coclear (IC)? O IC é um dispositivo eletrônico projetado para pessoas com perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo que não se beneficiam com a amplificação dos aparelhos auditivos convencionais, os AASIs (Aparelho de Amplificação Sonoara Individual). Ele funciona transformando sons em estímulos elétricos que são enviados diretamente ao nervo auditivo, isso significa que ele substitui parcialmente as células danificadas da cóclea, esses estímulos elétricos são enviados para o cérebro, onde são interpretados como som. O IC existe há mais de 60 anos, a primeira cirurgia de IC ocorreu em 1961, na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, e foi realizada pelo médico otologista William Fouts House e pelo neurocirurgião John Doyle que, juntamente como o engenheiro eletrônico Jim Doyle, desenvolveram o primeiro dispositivo.
O implante coclear dispõe de dois componentes principais. O processador de áudio, usado externamente, que é o processador externo, que detecta e envia os sons para o implante interno.
Como funcionam os Implantes Cocleares?
O componente externo do IC é usado geralmente atrás do pavilhão auricular e incorpora um ou mais microfones que captam o som ambiente e convertem a informação acústica num sinal analógico. Para além do microfone, o componente externo é ainda composto por um processador que compacta, filtra e codifica o sinal acústico num sinal elétrico capaz de estimular os neurónios do gânglio espiral. Os processadores de som digital atuais utilizam uma conversão de analógico para digital. O sinal processado, que contém padrões temporais e espaciais de estimulação, é então codificado e enviado através de um transmissor transcutâneo por sinais de radiofrequência para um receptor de sinal, localizado no componente interno. O componente interno é implantado cirurgicamente de forma subcutânea atrás do pavilhão auricular e o receptor de sinal vai acionar a ativação dos elétrodos intracocleares.
Quais os componentes e modelos dos processadores externos de IC?
Os componentes dos processadores externos do ICs podem variar de acordo com marca e modelo. No Brasil temos quatro marcas atuantes no mercado: a Cochlear, a Medel, a Advanced Bionics e Oticon Medical.

Imagem 1: Processador externo de IC de caixa, utilizado a anos atrás.
Os processadores mais antigos (imagem 1) eram grandes e tinham menos recursos de processamento de estímulos, se comparados aos atuais. Os processadores mais novos são menores e cada vez mais eficientes. Atualmente temos dois tipos de processadores externos, os retroauriculares (que são compostos por suporte auricular, o compartimento de baterias (bateria recarregáveis ou pilhas), a bobina (Ímã) e o cabo da bobina, e existem os processadores de peça única, em que todos esses componentes são acoplados e conectados direto ao ímã interno, deixando as orelhas dos usuários livres.
A seguir temos os modelos de processadores externos disponíveis no mercado das quatro fabricantes. Na imagem 2 temos processadores da fabricante austríaca Medel, os modelos Sonnet, Rondo 2, Sonnet 2 e Rondo 3;

os modelos Sonnet e Sonnet 2, são processadores retroauriculares e podem ser utilizados com pilhas descartáveis e com baterias recarregáveis, já os modelos Rondo 2 e Rondo 3 apresentam recarregamento sem fio.

Imagem 3: Processadores da fabricante Cochlear.
Na imagem 3, temos os processadores da fabricante australiana Cochlear, nessa imagem aparecem os processadores CP802, Nucleus 6, Kanso, Nucleus 7 e Kanso 2. Assim como a fabricante Medel, a Cochlear apresenta os modelos CP802, Nucleus 6 e 7 que são modelos retroauriculares, utilizados com pilhas descartáveis ou baterias recarregáveis e os modelos Kanso e Kanso 2, de peça única, o primeiro utilizado apenas com pilhas descartáveis e o segundo, apresenta carregamento sem fio.

Imagem 4: Processadores externos da fabricante Advanced Bionics.
Na imagem 4 temos os processadores externos da fabricante americana Advanced Bionics, que são retroauriculares e funcionam tanto com pilhas descartáveis, quanto com baterias recarregáveis.

Imagem 5: Processador externo Neuro 2 da fabricante Oticom Medical
Na imagem 5 temos o processador da fabricante Oticon Medical, o Neuro 2, que tem uma configuração retroauricular e tem funcionamento por pilhas descartáveis e baterias recarregáveis.
O que faz o processador externo?
O processador externo do IC é responsável pela captação do som que pode ser realizada por meio dos microfones do processador ou pelos acessórios de entrada (por exemplo quando o usuário está utilizando algum recurso de conectividade).

O processador externo é responsável pelo pré processamento e processamento do sinal acústico, esses sinais passam por diversas “estações” onde será codificado e será transmitido pela antena ou pela peça única de acordo com o modelo do processador externo (retroauricular ou peça única), para o componente interno do implante coclear, que transforma a informação digital em um sinal elétrico enviado para a cóclea.
Os recursos de pré processamento e processamento são diferentes de acordo com a fabricante e modelo de processador externo e tem o papel de melhorar a relação sinal ruído, ou seja, faz com que o usuário receba principalmente as informações dos sinais de fala, sem perder informações que possam ser importantes no ambiente, melhorando a audibilidade do sinal de fala e suprimindo o sinal de ruído (indesejado) ou uma combinação de ambos.
Uma informação muito importante é que os processadores externos atuais são compatíveis com diversos aparelhos auditivos convencionais, os AASIs, o que melhora a percepção sonora de usuários bimodais, que utilizam o IC em uma orelha e o AASI na outra.

Imagem 6- Processador de estimulação eletroacústica da fabricante Medel.
Para os usuários que apresentam perda auditivas principalmente nas frequências altas e com preservação parcial das frequências graves, existem os processadores que apresentam a combinação das duas tecnologias, a do implante coclear para os sons agudos e a de aparelhos auditivos para os sons graves. Na imagem 6 temos como exemplo o modelo de estimulação eletroacústica, o EAS.
É importante dizer que existem diversas soluções auditivas oferecidas no mercado, é indispensável uma avaliação criteriosa para que seja indicada a melhor solução auditiva para cada usuário.

Fonoaudióloga Érica Picoli
CRFa 2-16663
Graduação em Fonoaudiologia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp. Especialização em Audiologia Clínica pela Universidade de São Paulo – USP. Mestre em Ciência pela Universidade de São Paulo – USP.
Doutoranda em Ciências pela Universidade de São Paulo – USP.
Coordena as atividades de Implantes cocleares e Próteses auditivas ancoradas ao osso no Hospital de Otorrinolaringologia e Especialidades de São José do Rio Preto (HIORP) – SP.
Atua no clínica fonoaudiológica situada no Georgina Business Park, A. Anísio Haddad, 8001, São José do Rio Preto – SP.
Instagram: ericapicoli.fono
Cel.: (17) 99709-8593
Bibliografia
Carlson, M. L., Driscoll, C. L., Gifford, R. H., & Mcmenomey, S. O. (2012). Cochlear Implantation: Current and Future Device Options. Otolaryngologic Clinics of North America, 45(1), 221–248.
Hainarosie, M., Zainea , V., & Hainarosie, R. (2014). The evolution of cochlear implant technology and its clinical relevance. Ramsden, R. T. (2013). History of cochlear implantation. Cochlear Implants International, 14(sup4), 3–5.