Habilitação de Implante Coclear em crianças não oralizadas

A audição é um dos sentidos mais primordiais para toda a vida e é muito importante para o desenvolvimento na primeira infância. A deficiência auditiva caracterizada pela perda total ou parcial da audição, influencia diretamente no desenvolvimento da criança, na qualidade e em todos os âmbitos da vida (emocional, psicológico, social e intelectual).

Com os avanços da tecnologia na área da saúde, atualmente podemos contar com um dispositivo chamado implante coclear. O implante pode ser definido como “um dispositivo eletrônico inserido cirurgicamente na cóclea de portadores de disacusia sensorial severa e profunda bilateral, com o objetivo de estimular eletricamente as fibras do nervo auditivo de forma a substituir a função da cóclea”, ou seja, é um dispositivo que tem a função de substituir a cóclea que é a responsável pela função auditiva (SILVA, 2016 apud FORNAZARI, 2008).   

Essa tecnologia transformou muitas vidas e ainda transforma. O processo para a colocação do implante coclear passa por diversas etapas. Segundo a portaria nº 1.278, de 20 de outubro de 1999, do Ministério da Saúde, a equipe do programa de implante coclear deve ter os profissionais otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, assistente social e psicólogo. Além disso, existe a equipe complementar com profissionais, tais como neurologista, neuropediatra, geneticista, clínico geral e pediatra (CARDOSO; MAIA, 2018 apud SLEIFER; FERNANDA, 2011).

Vale destacar que é de extrema importância a realização do teste da orelhinha, um teste rápido e simples que avalia a audição do recém-nascido e é previsto por lei. Outra possibilidade para os recém nascidos é exame chamado Potencial Auditivo Evocado de Tronco Encefálico – PEATE, que também é capaz de detectar a surdez e é realizado por meio de indicação médica. Existem protocolos para a realização destes testes, mas assim como o teste do Pezinho, o teste da Orelhinha é ESSENCIAL e deve fazer parte do conhecimento dos pais. A identificação da perda auditiva o mais precocemente possível é muito importante, pois pesquisas revelam que crianças com perda auditiva profunda que recebem um implante coclear precocemente têm desempenho significativamente melhor do que as que o recebem mais tardiamente (CARDOSO; MAIA, 2018). Além disso, a neuroplasticidade do sistema auditivo interfere no desenvolvimento das habilidades dos aspectos auditivos, e alguns destes processos se completam por volta de 3 a 6 anos de idade (CARDOSO; MAIA, 2018). 

Para que a cirurgia ocorra, há um protocolo de indicação a ser seguido, no entanto somente o processo de cirurgia do implante coclear não é suficiente para estabelecer a comunicação oral. Após passar pelo processo de identificação da perda, realiza-se o processo de avaliação para verificar se a criança está apta à colocação do implante coclear. Se apta, após o procedimento cirúrgico, acontece a programação chamada ativação em que é ligado o processador de áudio e os primeiros sons são ouvidos.

Após essa etapa, são realizados outros procedimentos para a programações contínuas do implante, além do processo de (RE) habilitação auditiva. 

Quanto a (RE) habilitação auditiva, precisamos destacar que o desenvolvimento da linguagem oral necessita de diversos fatores, entre eles, a experiência auditiva. Portanto, após a colocação do implante, espera-se que o desenvolvimento auditivo e linguístico continue ocorrendo a partir do uso do dispositivo (CARDOSO; MAIA, 2018). Além do uso do dispositivo, as crianças usuárias do implante coclear devem passar por um processo de terapia fonoaudiológica com o objetivo de desenvolver as habilidades auditivas e a linguagem oral, adaptadas ao contexto que a criança está inserida, assim como os seus aspectos de aquisição da aprendizagem. Muito importante nesse processo, além do trabalho fonoaudiológico, é a estimulação da criança pela família.

Vale ressaltar que o papel da família é diferente do papel do terapeuta. Ambos devem estar integrados visando a aplicação e uso das estratégias aprendidas em consultório no dia a dia da criança. Observa-se também, a importância das adaptações escolares e orientação escolar, pois a criança passa a maior parte do seu tempo nos ambientes cotidianos, como a casa e a escola e menor tempo em terapia.  

Para a terapia fonoaudiológica temos várias linhas e métodos. O processo de terapia fonoaudiológica no processo de (RE) habilitação auditiva deve englobar as etapas de aquisição e de desenvolvimento da linguagem. As atividades e estratégias que são utilizadas devem levar em consideração a idade da criança, o interesse e a fase do brincar que a criança se encontra. A criança aprende pelo brincar, por esse motivo deve basear-se em situações lúdicas, englobando a linguagem oral e apresentando sons da fala que sejam interessantes naquele período. 

 Tudo é selecionado dentro de um contexto lúdico, porque ao brincar a criança adquire experiências e cria conhecimentos. O ideal para todo o processo da colocação do implante coclear é entre o primeiro e o segundo ano de vida, pensando nos melhores resultados para o desenvolvimento (YAMANAKA et al, 2010). Porém, crianças e adultos que atendam a critérios e requisitos para ser implantado podem fazer o procedimento e obter excelentes resultados. 

Os casos devem ser analisados um a um. O implante coclear é indicado para pessoas com perda auditiva neurossensorial de grau severo a profundo bilateral. A criança pode ter nascido com deficiência auditiva ou por algum motivo ter adquirido a perda auditiva, quando acontece antes do desenvolvimento da linguagem é chamado de pré- lingual. 

No caso de crianças com deficiência auditiva pré-lingual, o quanto antes passarem pelo processo de colocação do implante coclear é ideal. Claro que crianças que por algum motivo não conseguiram ser implantadas o quanto antes não significa que não terão benefícios, mas sabemos que os resultados e benefícios devem ser analisados pela equipe responsável pelo processo. Além disso, outros fatores como a família, aspectos psicológicos, estado de saúde … devem ser considerados. 

Assim como outras estratégias visando a comunicação e o desenvolvimento de linguagem podem ser implementados, partindo do contexto e em associação com a família e a escola. Como demonstram as pesquisas, os resultados dos benefícios do implante coclear em crianças maiores podem não ser os mesmos do que em crianças que foram implantadas em idade precoce, mas se avaliado pela equipe responsável pelo caso e com uma intervenção de (RE) habilitação com enfoque individualizado, adaptada à criança e a família, envolvendo todos os ambientes que a criança está inserida com objetivos reais e específicos, os resultados surgirão, como uma escada, cada degrau é superado.

Lembrando que se deve orientar os pais para direcionarem seus olhares e pensarem que as “dificuldades e os obstáculos” podem ser vistos como desafios a serem superados. Ao pensarmos em desafios, conseguimos enxergar um horizonte de possibilidades e no final sempre haverá progresso e ganhos. 

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Ana Caroline Rodrigues; MAIA, Ricardo Mendes. RE) HABILITAÇÃO AUDITIVA DE CRIANÇAS PÓS IMPLANTE COCLEAR: revisão bibliográfica. Teresina: Uninovafapi, 2018.  Disponível em:<https://assets.uninovafapi.edu.br/arquivos/old/arquivos_academicos/repositorio_Biblioteca/fonoaudiologia/20182/RE_HABILITA%C3%87%C3%83O%20AUDITIVA%20DE%20CRIAN%C3%87AS%20P%C3%93S%20IMPLANTE%20COCLEAR.pdf&gt;. Acesso em 02 de julho de 2022.  

SILVA, Eva Vilma Navegantes Da. Perceber, Pensar e Falar: O Implante Coclear na Realidade Escolar. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, 2016. Disponível em:<https://ppge.educacao.ufrj.br/disserta%C3%A7%C3%B5es2016/DEvaNavegantes.pdf&gt;. Acesso em 02 de julho de 2022.  YAMANAKA, Daniela Aparecida Rissi; PAIVA E SILVA, Roberto Benedito de; ZANOLLI, Maria de Lurdes; PAIVA E SILVA, Angélica Bronzatto de. Psic.: Teor. e Pesq. 26 (3), Set 2010. Disponível em:< https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000300009&gt;. Acesso em 02 de julho de 2022.

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