PERSPECTIVAS DE UMA ESTUDANTE DE FONOAUDIOLOGIA

Me chamo Ádylla, tenho 20 anos e sou acadêmica do 7º semestre de Fonoaudiologia da Universidade da Amazônia (UNAMA), em Belém – PA. Fui convidada para contar sobre minhas descobertas e vivências no estágio com prótese auditiva.

Após trancar o primeiro semestre de enfermagem em 2019 e de ter decidido fazer cursinho para tentar medicina, esbarrei no caminho para casa, em alguns anúncios da Universidade que estava com matrículas abertas para vários cursos, inclusive o de Fonoaudiologia.

Dizem que acasos não existem, mas sim propósitos. E aquele momento foi o início da minha história. Por alguma razão, senti uma curiosidade imensa em pesquisar e saber mais sobre aquele curso de nome tão diferente e até difícil de falar corretamente pela primeira vez. O famoso “fono o quê?”.

Para aqueles que se fizeram a pergunta anterior, a Fonoaudiologia é a ciência que tem como objeto de estudo a comunicação humana e todos os aspectos que possam interferir nesta comunicação, atuando na prevenção, diagnóstico e tratamento. 

Atualmente são quatorze áreas de especialidades reconhecidas pelo Conselho de Fonoaudiologia, sendo: Audiologia; Linguagem; Motricidade Orofacial; Voz; Gerontologia, Fluência; Perícia; Hospitalar; Neurofuncional; Saúde coletiva; Disfagia; Educacional; Neuropsicologia e Fonoaudiologia do Trabalho.

Resolvi fazer minha inscrição e fui aprovada. Ao longo destes quase quatro anos, conheci um pouco de cada área da Fonoaudiologia e me encantei por cada uma. Mas apesar de tantas possibilidades e de ter passado por vários estágios, fiquei a maior parte do tempo sem decidir o que seguir.

Até que no final do sexto semestre surgiu um processo seletivo para estágio externo, em uma clínica de aparelhos auditivos. Não demorou muito para que eu me fascinasse pela audição humana e pelo quanto essa profissão pode contribuir para a qualidade de vida daqueles que precisam.

Diariamente conheci pessoas, suas histórias de superação, angústias, anseios e expectativas. São nesses momentos que deixamos de ser apenas profissionais e acolhemos o paciente com o que existe em nossa essência: o SER humano, o ouvir, respeitar, apoiar e se dispor a ajudar no enfrentamento das dificuldades.

Algumas histórias marcam. Duas delas principalmente.

Na primeira, um senhor por volta de 60 anos, que morava sozinho em um interior e teve perda súbita bilateral, de grau moderadamente severo. O mesmo já tinha queixas de dificuldade para escutar antes do ocorrido, mas demorou quase dois anos para procurar atendimento devido à pandemia. Ele compunha músicas e tocava uma série de instrumentos. Os únicos prazeres de sua vida eram sua arte e ouvir o seu passarinho cantar. O paciente adquiriu a prótese auditiva e após 15 dias retornou à clínica para o acompanhamento de adaptação. Seu entusiasmo e alegria eram tão grandes ao contar os sons que ele tinha conseguido escutar novamente, que não tinha como não ficar feliz com aquela cena. Ele relatava sobre o som do passarinho que tanto gostava, das notas musicais de suas canções, o farfalhar da folhagem agitada pelo vento, cigarras, abelhas, o som distante que a sua bota fazia quando caminhava e até o esfregar de mãos.

Me pergunto quantos detalhes da vida nós deixamos passar despercebidos no dia a dia como o som de um passarinho, da chuva, a sensação que a nossa música preferida traz ou a voz das pessoas com quem convivemos? Seguindo esta mesma ideia, conto sobre o segundo caso, um dos primeiros que vivenciei.

Uma criança de quase três anos que chegou com os pais. Acompanhei todo o processo de protetização e o momento mais bonito foi na ativação do aparelho. O susto do primeiro contato com aquele ambiente novo refletido na sua feição. Olhinhos arregalados atentos a todos os sons e um leve sorrisinho de canto se formou ao escutar a voz dos pais, que a recebiam de braços abertos para o mundo sonoro. 

Que emoção ver uma criança que vivia, até então, em um silêncio quase absoluto começando uma nova etapa de sua vida e nascendo para os sons. Já são tantas histórias…

Pelo olhar de uma estudante vejo o estágio como uma oportunidade de desenvolver uma visão crítica e de reflexão acerca da minha própria prática profissional como futura fonoaudióloga, conhecendo as dificuldades, desafios, mas também o lado que me motiva todos os dias a continuar.

No entanto, a experiência pessoal foi muito mais enriquecedora. Aprendi e aprendo com essas histórias diariamente, sobre o respeito, sobre força para lutar e superar as adversidades, a importância do apoio da família e de pessoas queridas que lutam com você. Nós fazemos a diferença na vida dos nossos pacientes, mas são eles quem nos proporcionam ensinamentos valiosíssimos. Assim crescemos todos juntos.

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