A importância do diagnóstico audiológico na terapia de fala e linguagem

“A linguagem é onipresente na vida de todos os homens. Cerca-nos desde o despertar da  consciência, ainda no berço; segue-nos durante toda a nossa vida, em todos os nossos atos, e  acompanha-nos até na hora da morte. Sem ela, não se pode organizar o mundo do trabalho, pois é ela que permite a cooperação entre os seres humanos e a troca de informações e  experiências. Sem ela, o homem não pode conhecer-se nem conhecer o mundo. Sem ela não se  pode aprender. Sem ela não se podem expressar sentimentos. Sem ela, não se podem imaginar  outras realidades, construir utopias e sonhos.” 

José Luiz Fiorin* (2008)

Os fonoaudiológicos preparam-se continuamente para receber, amparar e reeducar os  indivíduos com os chamados distúrbios da comunicação. Dentre as patologias assistidas por essa  ciência, as alterações de fala e linguagem apresentam-se com demandas altas e complexas de  ocorrência, exigindo do profissional atualização constante e aprofundamento das questões  teóricas pertinentes à execução e ao aprendizado da fala. 

A realização de diagnóstico de alterações de linguagem infantil deve ser feita por fonoaudiólogo  capacitado que deverá analisar as condições de risco de cada criança, principalmente na  primeira infância, com intuito de verificar todas as dimensões do desenvolvimento e a  interferência entre elas. 

O processo de avaliação da linguagem infantil apresenta 2 aspectos relevantes: (1) medir o  processo de desenvolvimento de linguagem e suas competências; (2) o conhecimento e análise  do grau deste desenvolvimento e o diagnóstico em si. Estes aspectos somados auxiliam o  fonoaudiólogo na determinação da conduta a ser prescrita aos pacientes, bem como no  direcionamento dos encaminhamentos que se façam necessários e da própria hierarquia do  trabalho fonoaudiológico, uma vez que foram descritas neste processo avaliativo as  competências alteradas. 

O diagnóstico precoce irá reduzir consequências das alterações, bem como o tempo de  intervenção, viabilizando o planejamento terapêutico individual. Estudos apontam que a  manifestação da linguagem pode ser o 1º. sinal patognomônico de alterações ainda mais graves de aprendizagem e/ou de desenvolvimento global da criança e devem, portanto, serem  acolhidas e estimuladas na tentativa de minimizar seus efeitos negativos.

Faz-se necessário ao fonoaudiólogo entender as características normais à correta produção da  fala para que se identifique, posteriormente, a alteração com precisão. Conhecer o processo  pelo qual a AUDIÇÃO participa do processo de aquisição e desenvolvimento de linguagem e fala tornar-se primordial para fazer um diagnóstico assertivo das patologias envolvidas. Assim,  definir as hipóteses diagnósticas de manifestações nas áreas da pragmática, semântica,  morfossintaxe e fonologia, bem como as características fonéticas e fonológicas que compõem a  produção verbal oral, torna-se relevante nesse contexto em que se pode distinguir entre pontos  cruciais para a intervenção na patologia. 

O desenvolvimento da linguagem envolve inúmeros fatores que devem ser analisados para a  compreensão deste processo essencial para o ser humano. Estes fatores estão relacionados à  integridade do sistema nervoso central, ao processo maturacional, à integridade sensorial, à  audição, às habilidades cognitivas e intelectuais, ao processamento de informações ou aspectos  perceptivos, aos aspectos emocionais e à influência do ambiente que a criança está inserida. 

A linguagem é uma habilidade extremamente complexa, que se desenvolve com o principal  objetivo de permitir a comunicação, ou seja, transmitir e receber pensamentos, ensinamentos,  aprendizados, desejos, sentimentos. Este fenômeno favorece a interação e as inter-relações  entre as pessoas e eventos interferindo no desenvolvimento humano. 

Outro foco de estudo acerca da linguagem está baseado em seus aspectos receptivos e  expressivos, considerando-se a premissa de que a compreensão de uma palavra antecipa sua  produção apesar da existência de relação intrínseca e recíproca entre elas. 

Desta forma, os aspectos tanto auditivos como os visuais envolvidos no processo de aquisição e  desenvolvimento da linguagem, necessitam uma atenção especial durante o processo de  avaliação para darem subsídios à intervenção, uma vez que estes são os principais, porém não  os únicos, “canais” de entrada do estímulo para que ocorra o aprendizado da criança. A  integridade do sistema auditivo e seu pleno desenvolvimento é fundamental para a aquisição  da linguagem e fala e para a interação da criança com o meio ambiente, interferindo de forma  significativa no desenvolvimento cognitivo, emocional e social.

A importância da audição para o desenvolvimento social, de fala, linguagem e cognitivo já é  estabelecida na literatura. Além disso, sabe-se também, que o diagnóstico e intervenção  precoce são fundamentais para que os déficits causados pela deficiência auditiva sejam reduzidos e que o desenvolvimento global da criança ocorra de maneira mais satisfatória. Para  que esse processo ocorra de maneira eficaz, o programa de Triagem Auditiva Neonatal (TAN) é  a estratégia com maior validação para identificar a suspeita de perda auditiva. O protocolo  comumente utilizado nessa triagem, deve ser realizado por meio de equipamentos que  possibilitem a obtenção de medidas eletrofisiológicas. Dentre essas medidas, estão as Emissões  Otoacústicas Transientes (EOAT), para aqueles recém-nascidos que não possuem nenhum  Indicador de Risco para a Deficiência Auditiva (IRDA) e o Potencial Evocado Auditivo de Tronco  Encefálico Automático (PEATE-a) para aqueles que possuem. Por meio dessa triagem, a primeira  avaliação audiológica do recém-nascido é realizada e através dela dá-se início aos processos de  diagnóstico audiológico e intervenção precoce, quando necessário, e ao de monitoramento  audiológico (MA). O MA consiste em acompanhar e monitorar o desenvolvimento da função  auditiva no público infantil, após a realização da etapa de triagem da TAN. 

Considerando-se a complexidade da constituição da linguagem, o fonoaudiólogo deverá sempre  estudar e atualizar-se nesta área do desenvolvimento, a fim de compreender as alterações no  processo de aquisição ou na continuidade do uso da linguagem, com o objetivo final e único de  manter comunicação eficiente e permitir o relacionamento interpessoal de maneira efetiva,  promovendo aprendizagens e qualidade de vida a seus pacientes.

* José Luiz Fiorin é um professor, escritor, linguista e pesquisador brasileiro, considerado uma das referências em  pragmática, semiótica e análise do discurso e um dos linguistas que mais produz conteúdo na atualidade. Leciona no  Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É  um linguista dedicado aos seguintes temas: enunciação, estratégias discursivas, constituição do sentido do discurso  e do texto, produção dos discursos sociais verbais. 

Referências Bibliográficas: 

Giannecchini T, Yucubian-Fernandes, A, Maximino, LP. Praxia não verbal na Fonoaudiologia:  revisão de literatura. Rev. CEFAC. 2016 Set-Out; 18(5):1200-1208. 

Giannecchini, T, Maximino, LP. Programa de Intervenção Práxico-produtivo para indivíduos  com transtornos fonológico. Booktoy, 2ª edição. 2022.

Giannecchini, T. Fala e Audição: Inter-relação para o trabalho clínico. Anais do 18º. Congresso  da FORP. São Paulo, 2019. 

Gubiani MB, Carli CM, Keske-Soares M – Desvio fonológico e alterações práxicas orofacias e do  sistema estomatognático. Rev. CEFAC. 2015;17(1):134-42. 

Magalhães, CIO e col. Triagem da audição e linguagem em pré-escolares. Rev. CEFAC 23 (5), 2021. https://doi.org/10.1590/1982-0216/20212350121 

Muller-Chevrie C, Narbona J – A Linguagem da Criança. Aspectos Normais e Patológicos. 2ª.  Edição. Porto Alegre, Artmed, 2005. 

Wertzner HF. Fonologia: desenvolvimento e alterações. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi  SCO. (Org.). Tratado de Fonoaudiologia. 1 ed. São Paulo: Roca, 2004. cap. 62, p. 772-786.

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