A importância do diagnóstico de perdas leves tanto na infância como idade adulta

Em 2021, a OMS liberou um documento chamado de Primeiro relatório global sobre a audição. Ele define uma perda auditiva quando os limiares obtidos no exame de audiometria são maiores do que 20 decibéis nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000Hz. Sendo uma perda leve a que vai de 25 a 35 decibéis. Segundo esse mesmo relatório, atualmente cerca de 1,5 bilhão de pessoas (cerca de 20% da população mundial) convivem com algum grau de perda auditiva. Sendo que a perda auditiva leve é o tipo mais comum, afetando cerca de 1,15 bilhão de pessoas.

A perda de audição pode muitas vezes passar despercebida, pois não tem sintomas descapacitantes. Ainda mais se o quadro for leve, quando os sintomas são menos perceptíveis ainda. Mas isso não quer dizer que a perda auditiva leve não precisa de atenção nem de tratamentos adequados.

Os principais sintomas percebidos são: o início de dificuldade de compreensão em ambientes muito barulhentos, com mais de uma pessoa falando ao mesmo tempo ou quando quem está falando está longe ou fala baixo. Mas em ambientes silenciosos e mais controlados, muitas vezes o paciente não sente nenhuma dificuldade, e por isso não valoriza suas queixas. 

Uma perda de audição não afeta apenas a comunicação, ela pode também trazer impactos negativos para saúde física e emocional. Quem não ouve bem, precisa fazer um esforço auditivo maior que no final do dia pode causar cansaço, tensão muscular e até dores de cabeça. 

Quanto à saúde emocional, já está bem estabelecido que o prejuízo na comunicação causa um isolamento social, predispondo a quadros de depressão. Outro aspecto negativo é que a perda auditiva é um dos principais fatores de risco para quadros de demências, principalmente quando não é tratada adequadamente.

Em crianças, uma perda de audição leve também já pode trazer prejuízos. Já é bem estabelecido na literatura que a perda auditiva impacta na aquisição da linguagem e desenvolvimento da fala. Pode também atrapalhar o aprendizado escolar. Le Clerq et al (2020) mostraram em estudo que crianças com pequenas alterações auditivas já apresentavam desempenho escolar pior que crianças de audição normal, e ainda mostraram associação com distúrbios comportamentais e queixas relacionadas à atenção.

Portanto, um alerta importante é que toda criança que apresenta atraso na aquisição da linguagem ou que tenha dificuldades escolares precisa ser submetida a uma avaliação auditiva.

Além de todos esses motivos já citados, o diagnóstico da perda auditiva leve é importante para que seja iniciado um tratamento adequado. Diversos estudos mostraram que a falta de um estímulo auditivo adequado promove um atrofiamento das áreas corticais responsáveis pela interpretação do som e da fala. Também ocorre uma remodelação dessas áreas para outros sentidos como tato e visão.  Essas alterações já podem começar em apenas 3 meses após o início de uma perda auditiva leve. A principal forma de evitar essas alterações é com o uso de aparelhos auditivos.

Como foi mostrado acima, são vários os efeitos negativos de uma perda auditiva, mesmo em quadros leves. Por isso, na suspeita de qualquer dificuldade auditiva, mesmo que as dificuldades ainda sejam pequenas, é necessário realizar um exame audiológico para diagnosticar e iniciar o tratamento adequado.

Timmer BH, Hickson L, Launer S. Adults with mild hearing impairment: Are we meeting the challenge? Int J Audiol. 2015;54(11):786-95. doi: 10.3109/14992027.2015.1046504. Epub 2015 Jun 8. PMID: 26050524.

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le Clercq CMP, Labuschagne LJE, Franken MJP, et al. Association of Slight to Mild Hearing Loss With Behavioral Problems and School Performance in Children. JAMA Otolaryngol Head Neck Surg. 2020;146(2):113–120. doi:10.1001/jamaoto.2019.3585

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