Música e Reabilitação Auditiva

“SONS
SILÊNCIO
EXPERIÊNCIAS
MOMENTOS
MOVIMENTO
PERCEPÇÃO
APRENDER A OUVIR
E SENTIR
VIBRAR
AGIR
QUESTIONAR
SIGNIFICAR
CANTAR
APRECIAR
CRIAR
SOAR
O ESTAR.”

Mariane Sana Marinho

O artigo tem como objetivo relatar a minha experiência profissional como musicista e professora de música na reabilitação auditiva de crianças com deficiência auditiva.

A música está intrínseca na criança desde a gestação na pulsação dos batimentos cardíacos entre mãe e filho no ritmo da vida. O bebê já convive com os sons provocados pelo corpo da mãe desde a gestação. A pulsação, o sangue entre as veias, a respiração, o sopro, o coração, o ritmo da placenta, a vibração sonora da voz, a emoção, o ambiente sonoro perfeito na relação afetiva entre dois seres interligados. 

Som e silêncio os dois sincronizados em sua ausência. Som! tudo que soa no movimento das notas em forma de ondas sonoras. A sintonia com o soar da natureza, dos meios de transportes, dos ambientes diversos, dos animais, e dos seres humanos, e dos variados instrumentos musicais. 

E o silêncio?  O silêncio em sua essência, sons que já não podemos ouvir, vibrações longe do alcance do nosso ouvido, onde as ondas sonoras são mais lentas ou muito rápidas. 

“Tudo vibra, em permanente movimento, mas nem toda vibração transforma-se em som para os nossos ouvidos”. (BRITO, 2003, p. 17)

Vejo como extrema responsabilidade ensinar a percepção sonora, ou seja, ensinar cada criança em sua particularidade da deficiência auditiva o silêncio – pausa para a escuta, a fala, a melodia, o ritmo, sincronizada ao som significativo nessa troca entre som e silêncio, silêncio e som.

A música na primeira infância faz parte de seu corpo e toda vivência diária.  O movimento corporal se torna um ritmo entre os membros do corpo, transferindo para o pegar a baqueta, a colher, o lápis, a mão, o andar, o abrir e o fechar. O movimento rítmico do bebê é seu primeiro contato com o fazer musical, ou seja, a sua composição.

Sendo assim, é necessário destacar que a  relação da música com a deficiência auditiva é algo extraordinário. Existem muitas maneiras de ouvir e principalmente na deficiência auditiva.  A vibração sonora da harmonia e melodia dos instrumentos, a nossa voz, e os sons ambientes à nossa volta. Isso seja nas crianças usuárias de AASI (aparelho auditivo), do IC (Implante Coclear), ou sem a utilização de recursos tecnológicos.

É importante considerar que sons são certas vibrações do meio que se transmitem ao órgão receptor da audição e são transformadas em potenciais bioelétricos para o processamento no sistema auditivo3. Então, por meio das situações dicóticas, oferecidas o tempo todo pelo ambiente, os indivíduos conseguem diferenciar as complexidades acústicas dos sons como intensidade, frequência e fase4. Assim, para se processar a informação, via sentido da audição, os sons devem ser detectados e interpretados, ou seja, os estímulos acústicos são recebidos pelo sistema periférico e codificados neuralmente5. (EUGÊNIO; ESCALDA; LEMOS, 2012, p.993)

Segue uma fala de uma aluna, com surdez bilateral – usuária de aparelho auditivo em um ouvido e no outro o implante coclear. O soar do violão e sentir as cordas vibrando entre a madeira, a mesma relembra os sons a sua volta no dia -a dia: 

  • “Quando atravesso a rua preciso pensar no som do carro para seguir”. 

De acordo com sua fala ela precisa parar, e sentir o chão para identificar qual meio de transporte está chegando, se ela estiver escutando ao lado do aparelho auditivo (amplifica as ondas sonoras do ouvido). É muito interessante a atenção a escuta para discriminar o som para atravessar, essa percepção dos sons remete o interesse para ouvir e reconhecer o timbre da própria voz em diferentes entonações, dos instrumentos musicais em uma música  com diversos instrumentos, exemplo do gênero musical com o triângulo, a zabumba, a sanfona, o violão e a voz. O dedilhar o violão e compreender a altura sonora de cada corda entrelaçando na vibração da madeira.

 Conforme Brito (2003, p. 25) a música é uma linguagem, e esta tem sido interpretada e definida de diversas formas em cada tempo e cultura.

Na apreciação da escuta e no desenvolvimento do cantar e falar é importante a fala significativa, ouvir/sentir, visualizar, imaginar, processar, compreender, falar, cantar e  tocar. Tudo isso como pilar a entonação vocal, de acordo com as propriedades do som – o timbre, a altura (agudo e grave), a intensidade (forte e fraco), e a duração (longo e curto)

Cada indivíduo é único no sentir/ouvir a música. Observo que a fala é um esforço contínuo, um exercício diário baseado na compreensão da escuta.

A música na Reabilitação Auditiva é extraordinária no desenvolvimento do indivíduo. Essa linguagem está presente na vida da criança desde seu nascimento além dos processos cognitivos, e as habilidades inerentes à comunicação humana.

“Música é linguagem que organiza, intencionalmente, os signos sonoros e silêncio, no continuum espaço-tempo.” (BRITO, 2003, p.26)

Referências: EUGÊNIO, Mayra. ESCALDA, Júlia. LEMOS, Stela. Desenvolvimento Cognitivo, Auditivo e Linguístico Em Crianças Expostas À Música: Produção De Conhecimento Nacional E Internacional. Cognitive, auditory and linguistic development in children exposed to music: production of national and international knowledge. Rev. CEFAC. 2012 Set-Out; https://www.scielo.br/j/rcefac/a/Njn3hDBkY6xXKSPm7LZhTLL/?lang=pt&format =pdf. <Acesso 26 de setembro de 2022>

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