Ao falarmos de um tema tão significativo quanto a audição, é inevitável pensarmos nos tipos diferentes de tratamento que a tecnologia e as pesquisas nos forneceram nos últimos anos. Atualmente, com a gama de opções disponíveis, precisamos dominar os diagnósticos, com o objetivo de oferecer a melhor reabilitação auditiva possível aos pacientes.
Toda avaliação de queixa auditiva se inicia com um exame de audiometria, que nos fornece detalhes dos níveis tonais (identificação de tons) e vocais (identificação de voz e palavras) que o paciente apresenta. Além do nível de perda auditiva, de sinais de doenças da orelha e do nervo coclear, conseguimos através desse exame determinar se a alteração de audição está localizada na cóclea e nervo (perda neurossensorial) ou se está no caminho do som até a cóclea (perda condutiva). Existindo também uma combinação dessas duas perdas, chamada perda mista.
A perda mista combina uma redução da audição neurossensorial e uma redução da condução sonora. Encontramos esse tipo de alteração em algumas doenças e em combinações de diferentes quadros clínicos, relacionados ou não com a possibilidade de tratamento cirúrgico e com uso de diferentes próteses auditivas.
A primeira doença a ser relatada é a otite média crônica. Quadro de alteração crônica da mucosa do ouvido, apresentando alguns sintomas otológicos como otorréia, perda auditiva e zumbido. Com o acometimento da orelha média, erosão de cadeia ossicular, perfuração timpânica, pode-se instalar a perda de audição condutiva. Quando as infecções repetidas levam ao acometimento da orelha interna, ou mesmo por outros quadros clínicos, podemos ter associado a perda neurossensorial. Assim, muitos pacientes apresentam em suas avaliações auditivas um quadro de perda mista.
Outra doença também muito lembrada é a otosclerose, doença causada por uma alteração no metabolismo ósseo da cóclea e ossos da orelha. Essa doença leva a uma fixação da cadeia ossicular, mais especificamente da região do estribo, atrapalhando a condução do som. Em alguns casos, essa alteração metabólica óssea pode progredir para cóclea, acrescentando também a perda neurossensorial. Nesses casos a combinação de quadro clínico resulta na perda mista.
Além desses dois exemplos, podemos encontrar perda auditiva mista em: síndrome de Menière, hidropsia endolinfática, tumores malignos de orelha, ou após otites médias com acometimento de orelha interna associado etc.
Muitos dos casos de perda auditiva mista podem acabar recebendo a indicação de cirurgia, seja para corrigir sua doença de base, como na otite crônica ou na otosclerose, seja para reabilitação auditiva. Pensando em correção audiológica após cirurgia, temos duas principais formas de tratar essa perda mista: Aparelho de Amplificação Sonora Individual – AASI ou prótese ancorada ao osso.
O AASI, aparelho auditivo de amplificação sonora, atua amplificando o som captado pelo seu microfone, aumentando o input sonoro para a orelha afetada. Já a prótese auditiva ancorada ao osso tem como objetivo transmitir o som através de vibração diretamente para cóclea, anulando a necessidade da transmissão sonora fisiológica via cadeia ossicular.
É de fundamental importância a avaliação audiológica prévia, realização de testes de adaptação de aparelho auditivo e simulação de estímulo de vibração óssea. Deve-se tentar aproximar a avaliação pré decisão terapêutica ao máximo da rotina do paciente, utilizando testes com campo livre, com ruído, com protetização uni e bilateral a depender do caso. A importância dessa avaliação está diretamente ligada ao sucesso da reabilitação auditiva.
Vale ressaltar a importância da avaliação minuciosa principalmente nos casos, que não são infrequentes, de perdas auditivas bilaterais, com o mesmo componente misto e muitas vezes assimétrico, o que dificulta tanto a avaliação quanto a programação de ganho dos aparelhos.
Conclui-se esse texto enfatizando o que norteia a medicina nos últimos anos,ou seja, fornecer o melhor tratamento para cada paciente de forma individualizada, pautando sempre pelos protocolos e critérios estabelecidos clinicamente. Esse é o princípio que também rege o tratamento da perda mista, e todas suas nuances.
