A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), foi reconhecida como língua oficial do Brasil, em 24 de abril de 2002, através da aprovação da Lei nº 10.436, que reconhece essa língua como meio legal de comunicação no país.¹ Contudo, mesmo com essa grande conquista da comunidade surda, há alguns aspectos a serem esclarecidos, como o paradigma de que todo surdo apenas se comunica por meio da língua de sinais. Antes de desmistificar esta ideia, é importante conhecermos e compreendermos mais sobre a diversidade que existe dentro da comunidade surda.³
Por muito tempo, até os dias atuais, os ouvintes apenas reconhecem os surdos sinalizados, indivíduos que têm como primeira língua a Língua Brasileira de Sinais, os quais são chamados de forma equivocada como “surdos-mudos”. Porém, já se começou uma conscientização sobre esse termo, esclarecendo que por mais que a capacidade da fala seja afetada pela surdez, isso não significa que a pessoa seja muda.
Pois, já há um outro grupo de surdos que é pouco reconhecido e discriminado pelos ouvintes, são aqueles que tiveram algum contato com a língua portuguesa, seja antes da perda auditiva, ou depois do uso de aparelhos auditivos e implantes cocleares por meio do acompanhamento fonoaudiológico e equipe multidisciplinar, ou por conta da não aceitação da surdez de pais e familiares ouvintes, proporcionando que o processo de aprendizado da língua portuguesa acontecesse como um meio de sobrevivência para o sujeito surdo, e apesar da surdez escolhem permanecer-lá como única língua.²
Há também os bilíngues bimodais, são aqueles surdos que fazem uso da LIBRAS como primeira língua e da língua oral como segunda. O termo bimodal é relacionado aos diferentes articuladores em que as línguas são expressas, a visão e o oral. Permitindo que sejam articuladas e utilizadas simultaneamente.¹
Como parte desse processo, a leitura labial é uma ferramenta que pode ser utilizada como subterfúgio no aprendizado da linguagem verbal ². Sendo assim, aprendem a falar e desenvolvem habilidades de escrita e leitura.³ Entretanto, com a forte representação da LIBRAS como identidade da cultura surda, é muito comum haver a discriminação do surdo que tem a preferência em apenas se comunicar de forma oral, tendo a língua portuguesa como sua única língua, ou seja, não fazendo o uso da LIBRAS. A consequência disso é a não identificação do surdo oralizado como “um surdo de verdade”.² O que contribui para a dificuldade de quebrar o paradigma de que nem todo surdo usa LIBRAS.

REFERÊNCIAS
1. SILVA, Kleber. GUEDES, Sônia. DIAS, Tatiana. Tanzi, Adolfo. TUXI, Patricia. Teixeira, Cyntia. Bilinguismo para surdos: Um olhar histórico, social, educacional e linguístico. São Paulo: The ESPecialist, Vol. 40 No. 3, 2019.
2. PFEIFER, Paula. Crônicas da surdez. São Paulo: Plexus. 2013.
3. PERLIN, Gládis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Medição, 1998.