Projeto Bionic Girls

O projeto da Bionic Girls se inspirou na trajetória da equipe Connected Girls que ganhou o prêmio de melhor tecnologia da competição internacional Technovation Girls 2022, sendo que a Katarina era integrante da equipe Connected Girls. 

A equipe Connected Girls se sensibilizou com a história da Katarina, deficiente auditiva desde os 4 anos de idade, usuária de implante coclear (IC), e resolveu criar o Bella Connected Ears, um aplicativo para pessoas com deficiência auditiva que as auxilia em momentos de risco de vida quando estão sem aparelhos ou desatentas. O aplicativo permite a gravação de sons – como sirene, buzina, alarme de incêndio etc. – para que, ao reconhecê-los, acione um alerta em modo de vibração que serve para avisar o usuário sobre a situação que foi cadastrada no aplicativo. Esta ideia surgiu das histórias reais vividas por Isabella, atual integrante do Bionics Girls, uma jovem que teve problemas quando estava sem seus implantes cocleares e o alarme de incêndio soou no hotel em que estava hospedada; e por Katarina, que não ouviu a sirene no trânsito. Ambas foram alertadas pelos pais. Se elas estivessem sozinhas, o aplicativo Bella Ears Connected poderia salvar suas vidas! 

Equipe Connected Girls (2022): Katarina; Samantha; Catarina; Melissa 

E o projeto criou asas e agora continua com uma nova equipe, a Bionic Girls, formada por 4 meninas, todas usuárias de IC e que estão aprimorando o aplicativo, criando uma pulseira

vibratória para alertar os sons cadastrados, além da vibração no celular, pensando que desta forma o usuário receberá o aviso do som cadastrado mesmo que não esteja com o celular próximo. E também o aplicativo permitirá em quais momentos poderá ser alertado em relação aos sons cadastrados. 

Equipe Bionic Girls, (2023): Heloisa, Katarina, Júlia e Isabella.

“Até o momento as meninas criaram o nome da equipe, o nome do app e o logo, estão aprendendo sobre o programa Thunkable para desenvolver o aplicativo, que trabalha com blocos que formam os comandos do seu funcionamento”, explica Elisandra Aparecida Alves da Silva, Professora Doutora do Instituto Federal de Ciência, Tecnologia e Educação de São Paulo e uma das mentoras do projeto e também fundadora do projeto IF (meninas){nas exatas}, que visa promover a participação de mulheres na área de Exatas”, em conjunto com o mentor Douglas, que trabalha na área de engenharia de software. As meninas também vão ter que aprender como a pulseira com Raspberry, com um microcontrolador e com a possibilidade de programar em Python, o que facilita a implementação de algoritmos em inteligência artificial. 

A participação nesta competição, desde 2022, vem fazendo a diferença na vida de Katarina. “É uma oportunidade real para trabalhar sua autoestima, estimular a presença da mulher no universo da tecnologia e das ciências exatas desde a infância, bem como fomentar tanto a diversidade como a inclusão. A Katarina se sentiu supervalorizada em função de sua equipe ter aceito desenvolver um app para ajudá-la, além de tantas outras pessoas com deficiência auditiva. E agora com o grupo Bionics Girls, as quatro integrantes com a mesma realidade, deficientes auditivas e usuárias de IC, as fortalecem e faz com que elas vejam que não são únicas, pois até então, nenhuma delas tinham amizade com outra deficiente auditiva, e isso é muito importante. Não sabemos como elas se sairão na competição, mas com certeza o aprendizado em toda esta jornada e a amizade entre elas será algo pra vida toda, destaca Andrea Kaarina Meszaros Bueno, mãe da Katarina. 

Sobre o Technovation Girls: 

O Technovation Girls é um programa da organização americana sem fins lucrativos denominada Technovation. A ONG Instituto Paramitas representa o programa no Brasil. A competição tem como objetivo criar, desenvolver e lançar um aplicativo de celular ou um projeto utilizando Inteligência Artificial que resolva problemas em suas comunidades. 2022 Technovation Girls Finalists and Regional Winners | Technovation 

Sobre o projeto IF (meninas) {nas exatas}:

O projeto visa promover a participação de mulheres na área da exatas, motivando estudantes do ensino fundamental e médio a ingressar na área e colaborando para permanência de estudantes de graduação e pós-graduação já inseridas neste contexto. IF (meninas){nas exatas} (ifsp.edu.br)

Experiência com o projeto: 

Katarina: 

Gosta do projeto porque o aplicativo vai ajudar muitas pessoas, além de ajudá-la. Gosta de aprender a trabalhar em equipe, fazer novas amizades, gosta de aprender a mexer no aplicativo, apesar de achar difícil. Gosta das reuniões presenciais (não gosta das reuniões on lines). Acha um desafio ter que falar para os outros sobre sua deficiência auditiva. Aprende que nem sempre as coisas dão certo na primeira tentativa, isso ocorre por exemplo, quando precisa preparar uma gravação de um vídeo ou quando a programação não funciona. 

Heloisa: 

Animada com o projeto pelo impacto positivo que pode ter na vida das pessoas que não escutam, entende como um grande desafio a execução do app porque se considera totalmente “da área de humanas” e está se descobrindo com possibilidade de imersão na área de exatas e tecnologia de uma forma gostosa e com um propósito. Mas prefere mais a parte de pesquisa, gravação, etc. 

Julia: 

O projeto vai ser muito bom, pois vamos ajudar outras pessoas com a nossa história, e com a criação do aplicativo também. O futuro é tecnológico, tirar proveito disso, assim como tiramos proveito do implante que também é uma tecnologia, vai ser uma experiencia incrível. 

É a primeira vez que ela convive com outras meninas também implantadas, graças ao projeto. Apesar de gostar muito de tecnologia, esta sentindo como é difícil mexer com isso tudo. 

Isabella:

Está feliz com a possibilidade de poder ajudar ela mesma e outras pessoas que como ela também tem alguma dificuldade para escutar. Acha a programação um desafio já que nunca teve muita experiência com isso. Gostou muito de conhecer as outras 3 meninas que como ela também usam implante coclear e passam pelas mesmas experiências de vida. E ainda tem um pouco de vergonha para aparecer em fotos e vídeos do projeto mas com certeza ao longo do processo tudo isso vai mudar e ajudá-la a ver o quanto tudo isso é importante para todas.

Nossa história:

Katarina: 

A Katarina teve uma perda súbita da audição aos 4 anos de idade, quando saiu do banho e disse: “ Mamãe não estou escutando nada. ” Depois desta frase, uma nova realidade, uma criança que se tornou deficiente auditiva…. Kata passou a usar aparelhos auditivos. Foram 3 meses de intensa investigação. A causa da perda auditiva foi diagnosticada por aqueduto vestibular alargado, patologia que leva a perda da audição gradativa ou súbita. 

Após 3 meses foi feito o IC no ouvido direito. Nesta fase percebi que aquela menina espontânea, que tomava a iniciativa na sala de aula, se tornou mais introspectiva, fato que se explica pela perda da audição. Se a criança não escuta bem, terá mais dificuldade de interagir. Após a cirurgia iniciou um intenso processo de reabilitação com a fono e após quase dois anos a Katarina já apresentava uma excelente audição neste ouvido, muito próximo a uma audição normal. E aos 9 anos de idade ocorreu a perda súbita da audição do ouvido esquerdo, sendo necessário fazer o IC. O processo de reabilitação continua e a audição melhora a cada dia. 

Heloisa: 

Heloisa nasceu ouvinte, perdeu a audição em torno de 3 anos, quando não conseguiu fazer atividades com sons na creche, mudou seu comportamento ficando muito irritada e instável, chorava com frequência e começou falar “enrolado” e diminuir a quantidade de fala. Colocou rapidamente aparelhos auditivos para estimular as vias auditivas e fazer fonoterapia. Seguiu em avaliação para implante por quase 1 ano (tinha perdido audição quase completamente de 1 das orelhas e metade da outra). Implantou com quase 4 anos de um lado e 4 meses depois do outro lado porque neste caminho perdeu o restante da audição que tinha. Seguiu em fonoterapia especializada e foi ganhando habilidades auditivas desde o primeiro ano do implante, retomou rapidamente o processo de fala, voltou a ter autonomia e segurança para brincar e interagir com os colegas da escolinha, voltou a cantar e participar ativamente das atividades socio culturais de forma adequada para a idade. Teve alta da fonoterapia com cerca de 8 anos de idade. Sempre frequentou escola normal, tem autonomia de estudos, ótimo desempenho escolar, gosta muito de ler, tem convívio social normal com amigos ouvintes. 

Júlia: 

A gravidez da Julia foi normal, ela nasceu de parto natural, e passou no teste da orelhinha feita na maternidade. Tem uma irmã mais velha, e sempre dançou, balbuciou e brincou com a irmã. Não percebemos a perda, mas sabíamos que ela estava demorando para falar quando comparávamos com a irmã mais velha. Quando perguntávamos aos médicos, eles diziam que era normal. Na época não morávamos no Brasil, mas sempre que vínhamos aqui passávamos com todos que nos acompanhavam. 

Numa dessas visitas ao Brasil, a avó materna percebeu que o cachorro latia e ela não piscava, mesmo quando muito próximo ao rosto dela. 

Após passar com 3 médicos, e todos dizerem que ela escutava, um deles ainda insistia que ela não falava porque falávamos por ela e não andava porque ajudávamos demais, carregando no colo. Mesmo assim, insistimos em fazer os exames, e assim foi diagnosticada a perda profunda. Após o primeiro baque, o luto, fomos encaminhados à primeira fonoaudióloga. Ela iniciou o uso de aparelhos amplificadores, não percebemos muita melhora. Foi operada para colocação dos implantes, pois foi a indicação médica, aos 23 meses de idade. Fez os dois lados no mesmo dia e os implantes foram ligados após 15 dias. 

Após a cirurgia, uma longa jornada de fonoaudiologia, 3x por semana por alguns anos. Depois passamos para 2 x por semana e hoje, hoje ela vai uma vez ao ano. 

Isabella: 

Bella nasceu ouvinte, falava português e inglês fluentes, quando próximo aos 3 anos de idade foi diagnosticada com deficiência auditiva neurosensorial bilateral, de causa desconhecida, e ao longo do tempo foi perdendo cada vez mais a audição. Ela aprendeu nesta época a fazer leitura labial, o que a ajudou muito na comunicação. Ate os 5 anos ela usou AASI bilateral mas aos 5 anos realizou a primeira cirurgia de IC do lado direito, e no lado esquerdo continuou com o AASI. Realizava terapias de fonoaudiologia 3x por semana por um longo período e se adaptou muito bem ao IC, desenvolvendo a fala e a escuta em uma velocidade maravilhosa. Sempre fez amigos em todos os lugares e sempre foi muito bem aceita também. Aos 12 anos fez a cirurgia para o IC no lado esquerdo passando assim a usar IC nos dois lados. Isso a ajudou muito, facilitou a vida como ouvinte que e. Ela ainda diz que o 1º implante ela escuta bem melhor do que o 2º, mas que um ajuda o outro e por isso não gosta de ficar sem os dois. Com certeza a decisão de realizar as duas cirurgias para implante coclear foi a melhor que poderia ter acontecido para a Bella. Ela estuda em uma escola que a acolhe muito bem, onde usam 3 línguas rotineiramente, e ela acompanha tão bem quanto todas as outras crianças da idade dela. Bella está no ensino médio, adora música, dança, viajar e curtir seus dias com amigos.

Experiência de vida em relação a deficiência auditiva:

Katarina: 

A deficiência auditiva traz desafios, como na vida escolar. A Kata acha que o barulho da sala de aula atrapalha para escutar o professor, mesmo com o uso do Roger. A Kata sempre olha o lado bom de ter deficiência, como por exemplo, os direitos dos deficientes de pagar mais barato um ingresso e não pegar fila! E Kata diz “que mesmo com a deficiência auditiva minha vida é igual a das outras pessoas”. 

Heloisa: 

Helo convive num mundo ouvinte, bem adaptada, mas algumas atividades requerem adaptação: por exemplo quando toma banho está sem ouvir e para chamar ou transmitir algum recado, quando pequena que a porta ficava aberta, eu acendia e apagava a luz do banheiro para chamar sua atenção; agora, adolescente, sempre de porta fechada, as vezes passo bilhetinhos por baixo da porta do banheiro (rsrs). 

Na piscina ou praia ela não gosta de entrar de IC então precisamos chegar perto e acenar ou tocar nela para que faça leitura labial e entenda a solicitação. Quando acorda às vezes vem pra mesa do café sem IC e fica bem difícil a comunicação porque perde o som do ambiente e faz com que não entenda as situações no contexto todo (cachorro latindo, campainha que toca, torneira aberta caindo água, etc.) então acaba utilizando o IC o tempo todo desde que saí da cama até a hora de dormir. Agora ganhou um despertador para surdos e ganhou autonomia para acordar sozinha, pois antes dependia de mim para acordá-la com toque manual, e ficou super feliz com a aquisição! 

Isabella: 

A deficiência auditiva não a impede de nada. Ela pode fazer esportes de todos os tipos, pode experimentar todas as experiências que as outras crianças sem deficiência também fazem. Apenas em locais com muito barulho, com eco, microfones e caixas de som sem qualidade, pessoas de máscara ou muitas pessoas falando ao mesmo tempo que fica um pouco complicado para entender o que está sendo falado. Quando está SEM os seus implantes em momentos como banho ou quando vai dormir foi que nos preocupou e o que levou Mamãe e Papai a terem a ideia de criar algo que pudesse salvar a vida dela se houver qualquer risco de perigo e ela não puder escutar, como ocorreu em um hotel onde tocou o alarme de incêndio, ou em casa quando ela esqueceu o secador de cabelos ligado. E foi assim que passamos a ideia para o grupo anterior da competição de 2022. Bella gosta bastante do fato de poder se “desligar” do mundo nos momentos em que tira seus implantes cocleares, o que os ouvintes jamais conseguem fazer, e ela consegue assim descansar a mente e se recarregar de boa energia no silêncio absoluto. 

Júlia: 

A Julia é oralizada, tem uma vida normal na escola. É uma amiga querida pelas colegas. É muito bem aceita. 

Leva todos os dias o Fm, que ajuda a diminuir os ruídos que acontecem na sala, e ao mesmo tempo, escutar melhor. 

A parte ruim de usar o implante é ter que ter um aparelho na cabeça o tempo inteiro, a parte boa, é poder escutar.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: