POSSO USAR SEMPRE O COTONETE?

Me atrevi a pesquisar no Google o que é cotonete e para que serve. E, diferentemente dos meus pacientes quando digo que o uso dentro do conduto do ouvido é inadequado; não me espantei com o que achei: hastes flexíveis utilizadas para limpar os ouvidos e acúmulo de cera.

Mas então, por que não podemos usar cotonete? Meu ouvido vai ficar sujo? Se não é para usar, pra que que serve então? São as perguntas que ouço quando reitero a não indicação de colocar o cotonete no ouvido.

Vamos lá. O cotonete é uma marca registrada no Brasil pela Johnson & Johnson desde 1963. O nome correto desse famigerado objeto é haste flexível.

As hastes flexíveis foram inventadas por Leo Gersternzang, em 1922. Este polonês naturalizado americano decidiu fabricar e comercializar as hastes após ver sua mulher utilizando palitos de dente com chumaços de algodão enrolados para limpar a orelha do seu filho. A facilidade de manipulação para uso em partes pequenas do corpo fez com que rapidamente esse utensílio higiênico fosse habituado na rotina mundial.

Essa história já conta a primeira utilidade do cotonete: limpar a parte EXTERNA da orelha.

Outra utilidade que é facilmente encontrada na internet é o uso dos cotonetes para limpeza de outras áreas delicadas do corpo (eu pessoalmente sempre brinco dizendo que foi perfeitamente inventado para limpar maquiagem borrada). Brincadeiras à parte, essa ferramenta ainda pode ser utilizada na área da saúde para coleta de secreções para análise, também conhecido como swab; mais recentemente famoso pelo incómodo teste de PCR para Covid-19.

Agora pense comigo, se no seu nariz que é muito mais amplo que seu pequeno conduto do ouvido o “cotonete” já é capaz de fazer estrago e gerar tanto incômodo, imagina dentro da sua orelha!

Ahh mas meu ouvido vai ficar sujo?

Vamos lá! Cera não é sujeira!

O cerume (como também é chamada) é uma secreção produzida pela glândulas sebáceas da parte mais externa do seu conduto. Esse orifício é autolimpante e comumente vemos resto de cerume na toalha ou ao passarmos a mão na parte externa; isso significa que sua pele está fazendo o papel dela e eliminando para fora o excesso de cera. Sendo assim, a forma correta de limpar ou ouvidos é com uma toalha após o banho, até onde o dedo alcança. Voilá ! Sua pele faz o papel dela e você só tira o excesso exteriorizado quando necessário.

É verdade que algumas pessoas têm tendência a acumular cerume, o que atrapalha a entrada do som e deixa a sensação de ouvido tampado algumas vezes. Bom, geralmente essas são pessoas com a pele mais oleosa, que as glândulas sebáceas trabalham “a mais”.

A cera, além de proteger o ouvido da entrada de corpos estranhos (vá por mim, é melhor tirar cera do ouvido do que uma barata, por exemplo; e acontece!), também ajuda a regular a microflora do ouvido, evitando infecções bacterianas ou fúngicas desta região.

Finalmente, se você tem acúmulo de cera, coceira no ouvido, ou sensação de que tem algo nele; combata seu ímpeto de pegar o cotonete! Além do risco de lesão da pele do conduto, ele pode chegar a perfurar a membrana timpânica; além de só acumular e empurrar a cera para dentro do conduto! Nada de inventar de usar vela, ou gotas caseiras de álcool ou azeite! Sempre procure um médico otorrinolaringologista para avaliação!

Se a cera estiver atrapalhando a audição, ela será retirada da maneira correta; se não houver acúmulo a orientação e medicação se necessária (como para quem sofre de coceira importante no ouvido) será dada; e você aprenderá a cuidar melhor deste órgão que nos traz tanta interação e alegria!

E o cotonete? Toda vez que pegar ele lembre do incômodo do teste do Covid e não faça o mesmo com sua orelha! Guarda para as mulheres ajustarem a maquiagem perfeita!

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